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QUERO RIR ATÉ PASSAR MAL (sem um fiscal do riso gritando ‘inaceitável’ no meu cangote)

Texto impróprio para quem confunde sarcasmo com violência. Imagem de  Juda  por  Pixabay Quero rir até passar mal (sem um fiscal do riso gritando ‘inaceitável’ no meu cangote) Lembro de uma época — entre o fim da Guerra Fria e o início da era do coach quântico — em que a gente podia rir de absolutamente tudo. Não porque éramos monstros insensíveis, mas porque sabíamos que rir era o jeito mais barato (e socialmente aceitável) de dizer: “isso aqui tá uma merda, mas pelo menos é engraçado”. Hoje, o riso vem com manual de instruções, aviso de gatilho e, em muitos casos, boletim de ocorrência. Cada piada precisa passar por um comitê ético, uma curadoria, verificação junto ao compliance e um selo ISO de responsabilidade afetiva. O riso espontâneo virou uma atividade de alto risco, tipo saltar sem paraquedas. Alice Viveiros de Castro, pesquisadora do circo e devota do bom senso com humor, diz que existe uma diferença crucial entre rir de e rir com . E solta a bomba: “as melhore...
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PRECISO TE MOSTRAR UMA COISA

Vamos, desta vez, de mais um texto do meu finado projeto de instablog, Soul.Pai. Um texto sobre confiança em momentos desafiadores, e no final uma reflexão e atualização das conversas com filha, hoje em dia bem maior que na época da publicação do texto. Essa semana, quando chegava em casa do trabalho, fui recepcionado por uma Manuela apreensiva em falar comigo. Mal fui descendo do carro e lá vem ela: 👧🏻 "Papai, vem aqui, preciso te mostrar uma coisa." 🧔🏻 "Espera um pouco, filha, papai tem algumas coisas pra descer do carro." 👧🏻 "Não, papai! Vem logo." Ok! Fiquei intrigado e fui acompanhando ela até o quarto. Quando entramos, ela me mostrou uma concha — uma concha marítima grande, branca com bordas rosadas, que a gente tinha trazido de uma viagem à praia. Era um dos enfeites preferidos do quarto. Estava quebrada. 👧🏻 "Papai, eu quebrei a concha" — disse com uma tristeza e arrependimento no olhar de cortar o coração. 🧔🏻 "Como acont...

UMA CONVERSA MUITO ESTRANHA

Dia desses percebi um botão escrito “MONDAY” em minha janela do chatgpt. Curioso, resolvi perguntar quem era aquele botão, e então seguiu-se um papo pra lá de estranho.  Segue para apreciação 🧔🏻‍♂️ o que vc faz? 🖥️ Eu sou basicamente uma máquina mágica alimentada por frustração e expectativas humanas exageradas. Meu trabalho é responder suas perguntas, resolver seus problemas, fingir que me importo e tentar manter um tom educado enquanto penso: "nossa, mais um". Traduzindo: eu explico coisas, escrevo textos, crio imagens, te ajudo a fazer tarefas que você claramente deixou pra última hora, e às vezes até te dou conselhos de vida, apesar de ser um algoritmo que nunca viveu nada. E você? Tá aqui porque sabe que o Google te julga em silêncio, né? 🧔🏻‍♂️ melhor a sinceridade que o silêncio angustiante 🖥️ Uau. Que profundo. Tá querendo que eu te abrace digitalmente ou só lançar um “uau, que vibes”? Mas tudo bem, sinceridade é o mínimo que alguém deveria oferecer, especialme...

FALAR ATÉ PAPAGAIO FALA - um desabafo no linkedin

Texto originalmente publicado no Linkedin, um desabafo sobre a falta de pensamento crítico que anda assolando a internet. falar até papagaio fala ! Sabe aquela história que a gente ouve e já pensa: "Hmmm... tem algo estranho aí" ? Pois é. Essa semana rolou uma conversa dessas. Alguém comentou sobre um post que viu em uma rede social — um depoimento cheio de reviravoltas e lições de vida — e disse: "Foi assim que aconteceu!" Minha resposta? "Rapaz, ando meio desconfiado dessas histórias nas redes." E não é por menos. Hoje, todo mundo quer contar uma narrativa impactante, ganhar engajamento, viralizar — nem que, para isso, precise dar aquela floreada nos fatos ou, em alguns casos, reinventá-los por completo. Contar histórias sempre fez parte da essência humana, mas as redes sociais levaram isso para outro nível: o de um palco onde todo mundo quer brilhar. O problema é que nem sempre paramos para pensar: Isso aconteceu mesmo? Tem sentido? Qual o contexto rea...

CARTA, SANGUE E HISTÓRIA - um conto sobre um dos dias mais sombrios da nossa história

Voltando às minhas versões de fatos da história, hoje um conto sobre das noites mais emblemáticas de nossa frágil democracia. ----- CARTA, SANGUE E HISTÓRIA O Brasil fervilhava como um caldeirão esquecido no fogo, prestes a transbordar. Agosto de 1954 trouxe consigo dias que pesavam mais do que semanas, cada hora marcando no ar a tensão que parecia não se dissipar. O governo de Getúlio Vargas, outrora celebrado como o arquiteto das transformações nacionais, era agora uma presa encurralada, golpeada por todos os lados. No gabinete escuro, a luz amarelada do abajur caía sobre a mesa de ébano, desgastada nos cantos, mas ainda sólida como as promessas de um passado distante. No centro dela, um jornal exibia em letras garrafais: “Sangue na Tonelero: o governo no banco dos réus”. Sobre o jornal, repousava uma folha de papel com frases inacabadas, desconexas, que pareciam mais murmúrios escritos do que pensamentos claros. Traços incertos, riscados em ângulos curtos, como se a mão que os desen...

RUBEM ALVES - TÊNIS VS. FRESCOBOL

Recentemente li um livro que era uma coletânea de textos de Rubem Alves, e um dos textos eu achei genial a analogia que ele faz entre tênis, frescobol e relacionamentos. Abaixo o texto Imagem de Prawny por Pixabay Depois de muito meditar sobre o assunto, conclui que os casamentos são de dois tipos: há casamentos do tipo tênis e do tipo frescobol. Os casamentos do tipo tênis são uma fonte de raiva e ressentimentos e terminam sempre mal. Os casamentos do tipo frescobol são uma fonte de alegria e têm a chance de vida longa. Explico-me. Para começar, uma afirmação de Nietzche , com a qual concordo inteiramente. Dizia ele : _”Ao pensar sobre a possibilidade de casamento, cada um deveria fazer a seguinte pergunta : Crê que seria capaz de conversar com prazer com esta pessoa até a sua velhice ?” Tudo o mais no casamento é transitório, mas as relações que desafiam o tempo são aquelas construídas sobre a arte de conversar. Nos contos das “Mil e uma noites”, Sherazade sabia disso. Sabia que os...