- não vai beber não?
eu já tinha ouvido tantas vezes aquela pergunta, em tão diferentes lugares, quando as pessoas achavam que aquele tipo de broa líquida era de alguma forma uma bebida minimamente aceitável para ser chamada de cerveja, que já nem me preocupava mais em responder.
e o rufião contínuo
- ah é! você é exigente demais para beber da nossa cerveja de pobre, ela não é dessas "ipis" que você costuma beber. "Ipis"? É assim que fala mesmo? nem sei, não tenho gosto pra essas frescuras suas.
calado estava. calado fiquei. Em outros tempos eu talvez eu tentasse explicar que aquilo que ele chamava de cerveja eu poderia chamar de suco de milho, mijo de égua ou simplesmente de lixo mesmo, por exemplo. Mas hoje não tava afim de dizer que meu fígado não suportava mais esses insultos.
- isso mesmo, "ipis"! tá certinho. Não vou beber hoje porque as "ipis" de ontem não fizeram bem...
respondi aleatoriamente na ilusória expectativa que me deixaria em paz, mas ilusão e expectativa só servem pra te deixar ainda mais frustrado (ou puto), já que ele se achou no infeliz direito de continuar.
Talvez eu esteja perdendo a habilidade de sarcasmo, e isso realmente me preocupa.
- aí! diz que é cerveja boa, cerveja de verdade, cerveja sei lá o que. Mas tá aí de ressacada igual aos pobres que não bebem da sua “ipis”...
e ainda riu demoradamente.
levantei minha água solenemente e retribuí sua risada com um brinde.
- um brinde as ressacas das cervejas boas ou ruins, afinal o que nos importa é somente ela!
Comentários
Postar um comentário