Lenine não é apenas um compositor e cantor brilhante; ele é também um verdadeiro contador de histórias, alguém que consegue, em uma única música, trazer à tona a alma de um povo, sua cultura, tradições e memórias. Leão do Norte é uma obra em parceria com o compositor Paulo César Pinheiro que traz uma série de camadas culturais, em uma homenagem à sua rica identidade pernambucana.
A genialidade de Lenine está justamente em sua capacidade de enredar tantas referências em poucos versos, fazendo de Leão do Norte uma viagem completa pela cultura, história e paisagens de Pernambuco. A música é como um passeio pelos becos do Recife, uma visita às feiras de Caruaru, uma dança pelas ruas de Olinda — tudo isso guiado pela voz inconfundível de Lenine. Ouvir essa canção é sentir o calor nordestino, pisar no chão de barro, ver o colorido dos bonecos de mamulengo e se encantar com as histórias que cada verso conta.
Você sabe quais são as referências que Lenine colocou nessa música?
Referências:
- Mateus e Bastião do Boi Bumbá: Mateus e Bastião são personagens do Boi Bumbá, uma tradição popular cheia de cores e música. Eles representam a irreverência e o espírito brincalhão do folclore nordestino, levando alegria por onde passam.
- Mestre Vitalino: As famosas esculturas de barro do Mestre Vitalino, nascido em Caruaru, retratam a vida nordestina, cheias de simplicidade e detalhes que mostram a rotina e as festas do interior. Cada boneco parece ter vida própria, contando histórias em miniatura.
- Ciranda em Itamaracá: A ciranda é uma dança que une todos de mãos dadas, em roda, girando ao som de canções tradicionais. Na Ilha de Itamaracá, a ciranda ganha vida à beira-mar, com suas coreografias simples e ritmos hipnotizantes.
- Carlos Pena Filho e Capiba: Dois gigantes da cultura pernambucana. Carlos Pena Filho, poeta, expressa a beleza e as inquietudes do Recife. Já Capiba, com seus frevos que embalam o carnaval pernambucano, faz impossível não lembrar do colorido e da energia dessa festa.
- Orquestra Armorial: Ariano Suassuna, mestre em unir cultura popular e erudita, criou o Movimento Armorial, que busca retratar a essência nordestina através da música, artes visuais e teatro. A orquestra armorial mistura sons e ritmos, como se cada nota fosse um pedaço da alma do Nordeste.
- Capibaribe e João Cabral de Melo Neto: O rio Capibaribe corta o Recife, mas é muito mais que uma paisagem urbana; é um símbolo, um personagem. João Cabral de Melo Neto imortalizou o rio e tantas outras paisagens pernambucanas em seus versos intensos e viscerais.
- Mamulengo de São Bento do Una: Quem nunca se encantou com um boneco de mamulengo? Eles são figuras divertidas e irreverentes, cheias de personalidade. O teatro de mamulengo é pura brincadeira, crítica social e diversão.
- Baque solto de Maracatu: O som dos tambores do maracatu faz o chão tremer. O "baque solto" é uma das variações desse ritmo afro-brasileiro, uma batida mais leve, mas que carrega toda a força da ancestralidade e da cultura negra pernambucana.
- Ariano Suassuna e a Feira de Caruaru: Ariano, com sua obra teatral e literária, é a própria essência da cultura nordestina. A Feira de Caruaru é um caldeirão de cultura, cores e sabores, onde a vida do interior se mostra em toda a sua diversidade e riqueza.
- Frei Caneca e o Pastoril do Faceta: Frei Caneca foi um revolucionário, símbolo de resistência. Já o pastoril é uma dança folclórica típica, que ganha o toque especial do Faceta, um mestre popular de pastoril. Juntos, representam a força e a tradição do povo pernambucano.
- Nova Jerusalém: A cidade-teatro que encena, todos os anos, a Paixão de Cristo é o maior espetáculo ao ar livre do mundo, uma tradição que une fé e cultura em um cenário impressionante no meio do agreste.
- Luiz Gonzaga e o Manguebeat: O Rei do Baião, Luiz Gonzaga, é o maior símbolo da música nordestina. O movimento Manguebeat, surgido nos anos 1990, trouxe uma nova onda de criatividade, misturando ritmos tradicionais com rock e música eletrônica. Duas faces de uma mesma moeda: o amor à cultura nordestina.
- Mameluco de Casa Forte: O termo "mameluco" remete à mistura de raças que compõe a identidade brasileira. Casa Forte é um bairro tradicional do Recife, rico em história e cultura.
- Macambira de Joaquim Cardoso: Macambira é uma planta típica da caatinga, mas, nas mãos de Joaquim Cardoso, poeta e engenheiro, ela se torna poesia, força e resistência.
- Banda de Pife: Uma banda de pife é puro som do Nordeste. Os pífanos, pequenas flautas de bambu, dão o tom às festas populares, embalam celebrações e dão ritmo ao cotidiano.
- Tambores silenciosos e Calunga: Os Tambores Silenciosos são um ritual emocionante do carnaval de Olinda, onde maracatus reverenciam seus ancestrais africanos. A calunga, boneca sagrada carregada pelos grupos de maracatu, simboliza essa conexão ancestral.
- Folia de Olinda e Homem da Meia-Noite: O carnaval de Olinda é pura magia. A folia desce as ladeiras ao som do frevo, e o Homem da Meia-Noite, o boneco gigante mais famoso, abre os festejos com toda sua majestade e tradição.
- Jangadeiro de Jaboatão: O jangadeiro, aquele que corta as ondas do mar com sua jangada, representa a simplicidade e a coragem do povo que vive do mar. Jaboatão dos Guararapes é palco de história e cultura, berço de tantas tradições.
Leão do Norte é muito mais que uma canção; é um hino de amor a Pernambuco. Lenine nos leva a conhecer, ou relembrar, cada pedacinho dessa cultura, com suas figuras ilustres, tradições vibrantes e ritmos contagiantes. É impossível não se deixar levar pelo som e pela poesia dessa música, que nos convida a explorar e celebrar a força do Nordeste e a beleza do pernambucano.
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