Esse é mais um texto inspirado pelo som maravilhosamente pesado dos suecos do Sabaton!
Escrevi este texto entre outubro e novembro do ano passado (acho) e penso que demorei para postar ele por, talvez, não ter gostado tanto do resultado.
Mas é isso aí. As vezes Yes, as vezes No. E vida que segue
BRUXAS DA NOITE - as guerreiras silenciosas da guerra
O 588º Regimento de Bombardeiros Noturnos nasceu da necessidade desesperada da União Soviética em 1942. O avanço nazista devastava as frentes orientais, e a resistência soviética precisava de todos os recursos disponíveis para lutar. Foi Marina Raskova, uma lendária piloto de aviação, que convenceu Stalin a formar três regimentos aéreos compostos exclusivamente por mulheres, rompendo séculos de barreiras sociais e militares. Essas mulheres não hesitaram. Deixaram tudo pra trás e se uniram à guerra. Aos olhos do Estado, eram parte de um experimento ousado: provar que, em tempos de guerra, gênero não era desculpa para não lutar. Mas, quando a noite caía, elas se tornavam mais do que soldados — eram irmãs, eram bruxas. "O céu sempre nos pertenceu," diziam umas às outras antes de decolar, um ritual repetido à exaustão, como um mantra coletivo ao vazio noturno.
O esquadrão treinava e voava nos frágeis Polikarpov Po-2, aeronaves que refletiam a simplicidade dos tempos duros da guerra. Feitos de madeira compensada e lona, esses biplanos lembravam os aviões das primeiras décadas do século XX. As cabines abertas não as protegiam do frio cortante ou dos estilhaços inimigos, e o motor atingia uma velocidade máxima de apenas 152 km/h. Para muitos, esses aviões eram nada mais do que relíquias antiquadas, patéticas em comparação com os caças modernos da época — como o alemão Messerschmitt Bf 109 ou o soviético Yakovlev Yak-3, ambos capazes de ultrapassar 600 km/h e dominar os céus com agilidade mortal. Mas foi justamente essa simplicidade dos Po-2 que as tornaram armas imprevisíveis e fatais. A lentidão tornava esses aviões altamente manobráveis, capazes de voar baixo, quase ao nível do solo, e realizar curvas fechadas que confundiam o inimigo.
Nas missões noturnas, os Po-2 transformavam-se em instrumentos de assombro. Sem motores ruidosos, voavam como sombras silenciosas no céu, aproximando-se sorrateiramente de suas vítimas. As pilotos sabiam que um tiro certeiro faria de seu avião uma pira ardente nos campos abaixo. Mas essa vulnerabilidade era também a sua força. Cortando o motor ao se aproximar dos alvos, elas planavam no escuro, enquanto o ruído do vento se misturava ao sussurro das bombas caindo, deixando os nazistas em desespero. E assim passaram a ser conhecidas por eles: “Nachthexen”, as Bruxas da Noite.
Essas missões eram o coração de suas vidas. Antes de cada decolagem, se reuniam. Se o medo existia, jamais era dito. Havia um juramento. Formavam um círculo, todas ombro a ombro, enquanto a voz da comandante murmurava o compromisso que se repetia todas as noites: "Irmãs, voamos juntas, retornamos juntas. A noite nos pertence. Ao céu pertencemos. Que nossos nomes sejam esquecidos, mas nunca nossos feitos." O círculo era apertado, o calor era como uma corrente de força entre elas, algo que nem a guerra, nem as bombas, poderiam quebrar.
Voavam em formação apertada, protegendo-se mutuamente, unidas pelo fio invisível da irmandade. A cada voo, desafiavam não apenas a guerra, mas a própria dúvida. Voavam baixo, perto do chão e do perigo, como se o peso do conflito jamais pudesse ser maior do que a certeza de que seus biplanos cortariam o céu por mais uma noite.
E assim, sob os céus negros da Alemanha ocupada, tornaram-se uma lenda: mulheres que voavam como bruxas, mergulhando das nuvens em silêncio e desaparecendo antes que o inimigo pudesse compreendê-las. No voo, elas eram mais que pilotos — eram Bruxas da Noite, protetoras umas das outras, voando sempre em direção ao desconhecido, mas jamais sozinhas.
O final da guerra estava à vista, mas o fim trazia consigo uma sensação estranha. Não era o alívio que se imaginava. Para as Bruxas da Noite, o fim da luta vinha carregado de tensão. Elas já haviam desempenhado milhares de missões, voando quase toda noite, lançando bombas sobre posições inimigas em um padrão meticuloso, quase ritualístico. Cada missão era uma pequena vitória, uma repetição da mesma dança entre o perigo e a precisão. Elas sabiam o que fazer e como fazê-lo: cortar os motores, deslizar no silêncio da madrugada, confundir as defesas alemãs, lançar suas cargas mortais e desaparecer na escuridão antes que pudessem reagir. Essa forma de ataque havia feito história e medo entre as linhas inimigas. Elas se tornaram lendas vivas.
Nas últimas semanas, suas missões tinham se tornado mais estratégicas, atingindo pontos de resistência teimosos dos alemães que ainda lutavam com uma ferocidade desesperada. Mas o sentimento de que algo estava mudando se fazia presente. As batalhas haviam se tornado menos frequentes, porém mais arriscadas, quase como se o inimigo, sabendo que estava derrotado, apostasse tudo em um último golpe antes de cair.
Elas sentiam a aproximação desse fim com uma mistura de euforia e ansiedade. A euforia vinha de terem sobrevivido até ali, de saber que, apesar dos sacrifícios, estavam prestes a ver o sol nascer sobre uma terra livre do inimigo. Mas a ansiedade era mais difícil de descrever. Havia uma inquietude crescente, um medo surdo. Cada missão poderia ser a última, não apenas porque a guerra estava terminando, mas porque as condições pioravam a cada voo. Os relatos dos postos avançados indicavam que os alemães estavam reforçando suas defesas, e as mulheres sabiam que os alvos restantes não eram fáceis.
Foi nesse contexto que chegou a nova ordem. Uma missão conjunta. Ao invés de voarem sozinhas, como sempre haviam feito, dessa vez seriam acompanhadas por um grupo de pilotos homens. A notícia percorreu pela base como um choque, um golpe silencioso,reverberando nas tendas e nos sussurros das pilotos.
"Nós sempre fomos suficientes. Somos as Bruxas da Noite. Por que agora acham precisamos deles para voar?"
Era uma traição silenciosa, sentida no fundo do peito. Não importava quantas vezes haviam sido condecoradas, elogiadas pelo alto comando de guerra. Não importava que sua reputação tivesse se espalhado tanto que os próprios inimigos tremiam ao ouvir o som de suas bombas caindo na escuridão. De alguma forma, a guerra estava lhes lembrando que, no final, elas ainda eram apenas mulheres. Ainda eram insuficientes.
“Por que agora? Por que precisamos voar com eles?"
O murmúrio era inevitável. Para quem tinham provado sua capacidade, missão após missão? Tinham sobrevivido ao inverno, ao fogo inimigo, à dúvida que sempre tentava se infiltrar, e agora, quando a vitória estava tão próxima, lhes diziam que precisavam de ajuda.
Elas sempre se viram como irmãs. Cada decolagem era um pacto de sobrevivência entre elas, e agora essa confiança, construída com sangue e sacrifício, parecia ameaçada. Voar ao lado de homens que sempre haviam subestimado suas capacidades era como um golpe naquilo que mantinha o grupo unido. Mais do que o medo do inimigo, o que crescia no coração das Bruxas da Noite era o medo de que sua irmandade — a força que as sustentara — estivesse sendo testada de uma forma que nem o campo de batalha ousara antes.
A chegada dos pilotos homens à base foi um evento silencioso, mas denso de significado. Eles não chegaram como reforço; chegaram como líderes. Não havia instruções dadas ao comando das Bruxas da Noite, apenas uma nova cadeia de ordens que os pilotos masculinos carregavam consigo. Trouxeram a descrição da missão, entregando-a como um manifesto de sua superioridade tácita. As mulheres, que estavam acostumadas a decidir seus próprios voos e estratégias, foram relegadas a executoras sem voz. Não houve consultas, muito menos discussões — era um comando claro e impessoal, um sinal de que, apesar de seus feitos, suas vozes não eram necessárias naquele momento.
"Então é assim," murmuraram algumas, sentindo o peso da traição. Não era apenas uma questão de voar ao lado deles. Era a forma como o comando da missão havia sido tomado, como se elas fossem meras executoras de uma estratégia que não haviam ajudado a criar. As Bruxas eram especialistas em bombardeios noturnos, e sabiam, melhor que ninguém, as nuances das táticas que realmente funcionavam. Mas agora, esses homens, desconhecendo suas realidades, impunham um plano. Elas eram agora parte de uma máquina, sem o controle que sempre as havia mantido seguras no ar.
A base, que antes fora um lugar de descanso, agora parecia estranha. As tendas estavam quietas demais, como se até o vento soubesse que algo havia mudado. As mulheres se entreolhavam, sentindo que o refúgio que antes partilhavam havia sido invadido. A presença dos homens era um lembrete constante de que, na guerra, as mulheres ainda eram relegadas a um papel secundário, por mais temidas que tivessem se tornado. Eles falavam com arrogância, explicando as ordens e os planos, enquanto as Bruxas permaneciam em silêncio, observando. Sabiam que, para os homens, elas não passavam de apoio. Não se tratava de palavras ditas — era o que não era dito. A forma como os homens explicavam a missão, como se estivesse acima da capacidade de entendimento das pilotos, era uma demonstração velada de desconfiança.
Plano exposto, era hora de agir. As Bruxas da Noite se prepararam como sempre, mas algo estava fora de lugar. Suas mãos ainda tocavam as asas dos aviões antes de decolar, seu juramento ainda era feito em silêncio, mas havia uma rachadura na confiança que mantinha tudo unido. O campo de batalha não estava apenas no ar — começava ali, na terra, na base, onde seus destinos já não pareciam estar em suas próprias mãos. Para elas, não se tratava apenas de realizar a missão. Era, mais uma vez, provar que suas habilidades, suas táticas e sua irmandade ainda eram sua maior arma, mesmo quando não eram reconhecidas como tal.
A missão, no papel, parecia simples. Os homens explicaram o plano com cinismo e desaforo disfarçados de autoridade, tratando a operação como se fosse um obstáculo rotineiro, fácil de superar. Os alvos eram unidades de artilharia alemã localizadas em uma pequena cidade ao norte. Para os pilotos homens, era apenas mais uma missão; para as Bruxas, que conheciam os detalhes do território e das defesas inimigas, o risco era evidente. Elas sabiam que os alemães estavam preparados e prontos para defender sua posição com todas as forças. No entanto, os homens, ignorando essas nuances, prosseguiram confiantes no plano.
Antes da decolagem, a comandante das Bruxas reuniu suas pilotos para o ritual silencioso de sempre. Era um momento de conexão, um pacto entre elas. "Lembrem-se, irmãs, mesmo que nossas ordens sejam específicas, nenhuma de nós deve colocar a vida em risco. Mais importante do que a missão é o retorno de cada uma de nós. Retornamos juntas, ou não retornamos." As palavras da comandante carregavam a essência da irmandade que mantinha as Bruxas unidas. Não se tratava apenas de seguir ordens; tratava-se de proteger umas às outras.
Quando os motores dos caças do grupamento masculino rugiram no ar, a tensão aumentou. As Bruxas se olharam com medo e preocupação. O som alto e claro das aeronaves chamou imediatamente a atenção das defesas antiaéreas alemãs. Luzes começaram a varrer o céu como serpentes incandescentes, traçando trajetórias de fogo em busca de seus alvos. Era o início do caos. As Bruxas, acostumadas ao silêncio e à discrição, perceberam que a missão, posta como tão simples, não seria concluída com o sucesso esperado.
Enquanto o ataque se desenrolava, dois dos pilotos foram abatidos, pegos de surpresa pelas forças antiaéreas que tanto subestimaram. O plano estava desmoronando rapidamente. No meio da confusão, uma interferência surgiu nos rádios das Bruxas. As vozes masculinas, cheias de gritos de comando e desorientação, misturavam-se ao som do combate. Foi então que elas ouviram outra voz, uma que conheciam bem. "As ordens estão erradas, estão em perigo. Retornem imediatamente." A voz inconfundível era de Olga, a antiga comandante que nunca retornara de uma missão. Sua advertência era clara, como se estivesse ali, ao lado delas.
Naquele instante, as Bruxas souberam o que fazer. "Vocês também ouviram?" murmurou uma delas. "Sim" foi a resposta quase em uníssono do esquadrão. A atual comandante olhou para o rádio comunicador e, sem hesitar, reforçou: "Eu sempre soube que Olga continuava conosco. Confiamos nela ontem e confiamos nela hoje." A missão havia falhado, mas não iriam falhar entre si. Contra as tais ordens específicas, começaram a manobrar para retornar à base. Para as Bruxas, a voz de Olga era um sinal de alerta maior do que qualquer comando emitido pela frequência oficial do combate.
O silêncio após a aterrissagem era pesado. O alívio que sentiam por estarem todas de volta em segurança não apagava o desconforto de voarem sob ordens que sabiam que não iriam funcionar. As Bruxas caminhavam em direção às tendas, com passos firmes, mas os ombros ligeiramente mais tensos. "Todas voltaram," sussurrou uma das pilotos, quebrando o silêncio com um tom misto de orgulho contido. No fundo, o retorno de todas elas era a verdadeira vitória, mas o peso da missão incompleta ainda pairava sobre o esquadrão. "Foi um erro confiar neles," disse outra, sua voz ecoando o que muitas sentiam. Havia alívio por estarem ali, juntas, mas também frustração — não pela missão, mas pelo fato de que seus talentos haviam sido subestimados desde o início. Elas não se culparam. Para elas, o retorno seguro de cada uma era o único sucesso que importava, e esse sucesso fora delas, não dos homens.
De volta à base, o clima estava longe de ser de alívio. O retorno parcial e as perdas entre os homens alimentaram uma discussão intensa. Os pilotos, furiosos com o desfecho da missão, começaram a gritar acusações.
"Vocês nos condenaram!" vociferavam, culpando as Bruxas pelo fracasso.
"Nós sempre voamos sozinhas. Sempre tivemos sucesso nas missões. SEMPRE!"
"Se tivessem seguido o plano..."
"Se tivessem seguido o SEU plano, estaríamos todas mortas a essa hora..." A voz da comandante cortou o ar como uma lâmina. As palavras saíram de maneira dura, quase cortantes, entre uma das pilotos, que encarava os homens com olhos fervilhando de raiva contida. O restante do esquadrão, embora silencioso, sentia o mesmo peso no peito, um nó apertado que fazia seus punhos se fecharem. "Vocês chegaram com suas ordens, ignoraram nossas táticas, e agora querem nos culpar pelo seu fracasso?" A voz da comandante não era alta, mas carregava uma severidade que fez o ar entre as duas equipes parecer mais denso. Enquanto os homens, envergonhados e furiosos, trocavam olhares, as Bruxas mantinham seus olhares firmes. Sabiam que, apesar do retorno seguro, a desconfiança tinha deixado cicatrizes. "Nós fizemos o que sempre fazemos: sobrevivemos. E isso, por si só, é nossa vitória."
Após a tensa discussão com os pilotos, as Bruxas da Noite sabiam que podiam completar a missão. Apesar das críticas, elas mantinham a clareza que as havia mantido vivas durante toda a guerra. Seus aviões não tinham condições de carregar munição pesada o suficiente para destruir o alvo principal, mas isso nunca fora um problema para elas. Estavam acostumadas a realizar mais de uma missão por noite — era uma questão de estratégia e persistência. O campo de batalha era sua casa, e não deixariam que uma falha temporária se transformasse em derrota.
"Vamos voltar. Precisaremos voar mais alto", disse a comandante, com calma. "Se destruirmos as defesas antiaéreas, eles não terão como se proteger, nem de se reorganizar. O alvo estará vulnerável."
Traçaram um novo plano, desta vez sem as interferências ou arrogâncias dos pilotos homens. Em silêncio, ajustaram suas aeronaves e se prepararam. Não precisavam de reconhecimento imediato ou aplausos. Bastava acertar os alvos e voltar para suas irmãs. "Nós já fizemos isso antes," murmurou uma delas. "Uma, duas, três vezes por noite, se necessário." Estavam acostumadas à exaustão, à repetição, à vitória discreta, e agora não seria diferente.
Quando seus aviões voltaram a cortar o céu, o som dos motores ecoou pela base. Os pilotos, ainda se recuperando da discussão, pararam ao ouvir o ruído. "O que elas estão fazendo?" um deles perguntou, enquanto observavam as silhuetas dos Po-2 subindo ao céu.
No alto, as Bruxas executaram sua missão com a mesma precisão silenciosa que as transformaram em lendas. Elas cortaram as defesas antiaéreas inimigas, desestabilizando o campo. Sabiam que isso deixaria o alvo principal completamente exposto. Quando retornaram à base, ainda no manto da noite, não houve celebrações.
A comandante das Bruxas caminhou até o comandante dos pilotos. "As defesas antiaéreas foram destruídas," disse, com um tom controlado. "O alvo está desprotegido. Sugiro que levantem voo logo, antes que o inimigo tenha tempo de refazer as defesas. Vocês não terão problemas desta vez". Não havia ironia em sua voz, apenas um profissionalismo frio. A mensagem era clara: elas haviam feito seu trabalho, agora era hora dos homens fazerem o deles.
Quando o fim da guerra finalmente chegou, as Bruxas da Noite se prepararam para o retorno à vida civil, mas a sensação de que algo essencial ficara para trás acompanhava cada uma delas. O que aconteceria com elas agora que os céus se tornaram quietos e os aviões, que antes voavam como extensões de seus corpos, repousavam em hangares esquecidos? Havia uma sensação incômoda de que suas histórias se perderiam no vasto esquecimento, como folhas ao vento, varridas pelo tempo.
O céu, outrora seu santuário, agora parecia mais distante. Elas o observavam em silêncio, sentindo que algo havia mudado para sempre. Não era apenas o fim da guerra; era o fim de uma parte delas, que sempre viveria nas sombras da noite, escondida nos ecos dos motores que não mais rugiam.
O 588º Regimento de Bombardeiros Noturnos realizou mais de 30.000 missões, voando sob o véu da noite, atingindo alvos com precisão quase fantasmagórica. Mas depois da última missão, seus feitos se diluíram na névoa das grandes narrativas de guerra. Algumas foram condecoradas, é verdade, mas, para a maioria, o retorno à vida civil foi como despertar de um sonho que poucos entenderiam. O céu, que um dia pertencera a elas, era agora apenas uma lembrança, algo que se desvanecia, assim como o eco de seus motores nos campos devastados.
Não houve fanfarras nem paradas. As medalhas, brilhantes em sua simplicidade, refletiam uma glória silenciosa. O nome de cada uma delas se dissolvia no anonimato das cidades e aldeias soviéticas, onde o retorno à vida comum era mais duro do que qualquer missão que haviam enfrentado. E assim, aos poucos, suas histórias desapareceram nas margens da história, suas vozes abafadas pelo rugido da vitória coletiva.
No entanto, o legado delas, embora enterrado sob o peso de tantas outras histórias, nunca foi completamente apagado. Nos anos que se seguiram, a lenda das Bruxas da Noite continuou a vagar como as sombras que um dia haviam sido, sussurrada entre aqueles que conheciam os detalhes e os segredos dos céus. Para aqueles que as viam de longe, elas sempre seriam as espectrais mulheres que cortavam a noite, indomáveis, sem serem vistas, mas para elas, eram simplesmente irmãs.
Mesmo longe dos campos de batalha, a irmandade permanecia. Não era uma ligação forjada pelo aço ou pelo sangue, mas pelo silêncio que partilhavam quando enfrentavam a morte noite após noite. Embora a guerra tivesse terminado, o laço entre elas era imortal — uma promessa que o tempo não poderia desfazer. Enquanto a memória coletiva insistia em deixá-las para trás, elas sabiam, em seus corações, que o verdadeiro triunfo não estava nas condecorações ou nas palavras inscritas em pedra. O verdadeiro triunfo estava no céu. E ele sempre as pertenceria.
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